segunda-feira, 12 de outubro de 2009

RESENHA - INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA
MUSSALIM ET AL


1. LINGUÍSTICA HISTÓRICA

No século XIX, com o advento do Racionalismo, emergiram os estudos diacrônicos linguísticos, principalmente acerca do latim, grego e sânscrito. O inglês William Jones propôs que essas línguas fossem aparentadas entre si. Buscavam-se mudanças fonológicas, morfológicas e semânticas que teriam provocado o nascimento de novos códigos. Comparavam-se línguas a fim de se identificar uma origem comum entre elas. A postulação de "árvore genealógica" de uma língua, por influência dos estudos genéticos, então em voga, é pertinente a esse estudo histórico-linguístico: as linguas neolatinas, dentre as quais o Português, estão numa mesma árvore, têm uma mesma origem, ou seja, o latim.










2. SOCIOLINGUÍS
TICA

Na segunda metade do século XIX, por influência do pensamento evolucionista, a linguagem é vista pelo alemão Schleicher como um organismo "que nasce, cresce e morre"(p23- vol1). Assim, não se consideram fatores sociais no fenômeno comunicativo humano. Em contrapartida, no início do século XX, o francês Saussure desvincula a linguagem dos estudos biológicos: inauguram-se os estudos linguísticos a partir do postulado da imanência da língua, ou seja, considerada em si mesma e por si mesma. Dessa forma, fatores sincrônicos estarão em evidência, o sistema linguístico interno será o foco de destaque. Daí o rótulo "estruturalista" atribuído a Saussure. A partir de então, considera-se a "arbitrariedade do signo" em oposição ao caráter realista atribuído à linguagem pelos filósofos gregos. A principal dicotomia estabelecida nesse estudo foi "língua-fala", sendo a primeira prestigiada em relação à segunda. Na segunda metade do século XX, destaca-se a obra do russo Jakobson com a "Perspectiva Funcional da Sentença". Ele critica a homogeneidade saussuriana referente ao código linguístico. A heterogeneidade yakobsoniana considera fatores externos envolvidos na comunicação. Além do código, estudado exautivamente por Saussure, participam do processo comunicativo o remetente, a mensagem, o destinatário, o contexto e o canal. Esses elementos até hoje são estudados em nível médio acerca das "funções da linguagem". O francês Benveniste (1963) corrobora o caráter social da linguagem e acrescenta que "é dentro da, e pela língua, que indivíduo e sociedade se determinam mutuamente." (p.26 - vol 1) Após essas considerações acerca dos fatores extralinguísticos na efetivação do processo comunicativo, vale salientar o destaque alcançado pelo americano Labov nos estudos conhecidos como "Sociolinguística Variacionista". A língua um instrumento verbal sujeito a mudanças, precedidas por variações. A consideração de que o comportamento linguístico está relacionado a fatores como idade, sexo, ocupação, origem étnica, atitude fez emergir uma gramática descritiva, que permite a consideração de normas além da padrão e de variantes dialetais. Iniciou-se uma discussão ferrenha sobre "preconceito linguístico". A noção de erro prevista pela gramática normativa foi substituida pelos conceitos de adequação e inadequação linguísticas, totalmente vinculados a um específico contexto comunicativo.























3. LINGUÍSTICA GERATIVA

O Gerativismo de Chomsky inserem-se dentro do chamado Formalismo , assim como o Estruturalismo de Saussure. Ambos foram considerados "mentalistas" em oposição aos "realistas" da antiguidade clássica, dentre eles, Platão, Aristóteles e Sócrates que consideravam a palavra numa correspondência biunívoca em relação às coisas do mundo. Chomsky considera a língua uma herança, e atribui à mente a função de exteriorizar essa "competência" inata. A partir dessa materialização falar-se-ia em "desempenho". Outro conceito chomskyano é o de "criatividade", atributo limitado pela língua. O principal traço que diferencia o Estruturalismo do Gerativismo foi a consideração de um "ser pensante" que produz enunciados restritos às regras gramaticais, que o antecedem haja vista que o Gerativismo postule a autonomia da sintaxe. O Gerativismo acrescenta o nível transformacional aos níveis linguisticos previstos pelo estruturalismo americano representado principalmente por Bloomfield, a saber, fonemas, morfemas, palavras, categorias sintáticas, estrutura frasal e transformações. A Teoria dos Casos pertinente ao Gerativismo prevê que "a sentença que verbo finito atribui o caso nominativo a seu sujeito; o verbo atribui o caso objetivo a seu complemento; e a preposição atribui o caso oblíquo a seu complemento." (p. 119 - vol 3) Com a teoria dos "Princípios e Parâmetros", Chomsky considera respectivamente a dimensão universal e a particular na configuração do jogo linguístico.























4. LINGUÍSTICA FUNCIONAL


A Sintaxe não é autônoma como afirma o Gerativismo. Ao contrário, ela depende da Semântica e da Pragmática. Halliday(1967, 1974), na Inglaterra, enfoca a motivação discursiva da estrutura sentencial com base na oposição dado-novo, tema-rema. Na Checoslováquia, Weil (1874) distinguira movimento de ideias expresso pela ordem das palavras e movimento sintático expresso pela desinência. Às considerações de Weil, Mathesius acrescenta que a ordem não-emotiva, não-marcada configurar-se-ia em tema-transição-rema; enquanto a ordem emotiva, marcada corresponderia à rema-transição-tema. Sujeito ou tópico e predicado, entidades gramaticais, vinculam-se a tema e rema, entidades comunicacionais. Esses estudos influenciaram sobremaneira as postulações de Halliday que considera a organização do sistema linguístico em três macrofunções: ideacional (mundo-mente), textual (criação de mensagens), interpessoal (atos pragmáticos de fala). Nessa última, considerem-se os conceitos de tópico, entidade evocada no discurso, chamada de tema por Dik; foco, informação a ser ressaltada; definitude, vinculada a informação compartilhada; oração em camadas, que permite através da predicação, designarem-se estados de coisas; ordenação de constituintes, selecionada pelo falante a partir de seus propósitos. Givón(1979), nos Estados Unidos, elenca os princípios comunicacionais: dinamismo comunicativo ao qual se vinculam as discussões acerca de fluxo de atenção e ponto de vista; grau de planejamento, monitoramento face a face, conhecimento pragmático compartilhado . É o fluxo de atenção que determina a ordenação dos sintagmas nominais. O falante seleciona uma sequencia algumental que pressupõe atrair a atenção do ouvinte. Dik (1989) na Holanda entende que "uma Gramática Funcional deve conformar-se a três princípios de adequação descritiva: pragmática, psicológica, tipológica." (p. 171- vol3). A partir desse pressuposto, os parâmetros funcionais fundamentam-se nos conceitos de figura-fundo, cadeia tópica, transitividade (Hopper e Thompson, 1980), fluxo de informação, gramaticalização. A parte do discurso que lhe dá sustentação e não contribui para os objetivos do falante é chamada fundo, o material que fornece os pontos discursivos principais é chamado figura. A transitividade é entendida como um atributo oracional que se transfere de um agente a um paciente. O fenômeno da gramaticalização corresponde a um processo pelo qual um item lexical passa a exercer função gramatical. A noção de estrutura argumental preferida proposta por DuBois nos Estados Unidos vincula padrões gramaticais preferidos nas línguas acusativas e ergativas a princípios de distribuição de informação. Chafe(1976), também no Estados Unidos, diferencia tópico e sujeito: o tópico deve ser sempre definido, o sujeito não precisa; o tópico não precisa ser um argumento do verbo, o sujeito apresenta algum tipo de restrição selecional a ele vinculada; o tópico sempre vem especificado, o sujeito admite-se vazio; o tópico manifesta-se sempre em posição inicial, diferentemente do sujeito; este, e nunca o tópico, possui papel relevante em processos como reflexivização, passivização, apagamento de elementos co-referenciais.



Um comentário: