sexta-feira, 17 de julho de 2009


3º LUGAR EM CONCURSO NACIONAL DE POEMAS - 2005

O dito pelo não-dito


Neide Domingues


Este cordão não me serve para nada!
Se ele me permitisse um contato fônico
Ou, ao menos, telepático,
Aí sim poderia prorrogar a minha vida,
Intermediar negociações,
Facilitar protelações...

Canal vital que transporta
Oxigênio e nutriente...
Até quando?
Insuficiente!

Ele é um verdadeiro não-leva-e-traz...
Minhas súplicas antitabagistas e antialcoólicas
Contra qualquer tipo de fetocídio breve ou lento
Certamente irão comigo para algum recipiente de pesquisa
Ou lixeira mesmo... Não faz diferença!
E traz informações que confirmam
Minhas suspeitas:
Estou com a vida por um fio!
Ou melhor, por um cordão,
Por um estúpido cordão!

Por que ele não se enrola de uma vez em mim
E abrevia essa aflição?
Ao menos, não seria testemunha de um crime covarde...

Não terei direito nem à primeira palavra,
Muito menos à última!
Mesmo assim, deixo meu testemunho
Contra a pena de morte intrauterina
Gravado neste minúsculo cérebro

E, se eu for cobaia de algum laboratório,
E alguém conseguir ler a minha mente,
Saiba que fui gente!
Não soltei pipa, nem enchi balões,
Mas, nos poucos meses que vivi,
Amei mais a vida
Do que qualquer um que respire
Pelos próprios pulmões...

Amnioticamente imerso,
Chego a imaginar-me um alevino,
Talvez um girino...
Minha expectativa de vida
Seria menos desprezível!

Não!!! Nem peixe, nem anfíbio,
Nem réptil, nem ave...
Sou um cordado racional
E estou acordado!
Só estou trancado
E não tenho a chave!
Tenho o cordão,
Mas ele não me vale...


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