domingo, 8 de novembro de 2009


RESENHA de NEVES, Maria H. de M. Texto e Gramática. São Paulo: Contexto,2007.
(pág 118 a 122)


A RECATEGORIZAÇÃO

Se um objeto discursivo já foi categorizado, isto é nomeado, ele poderá ser recategorizado. A designação remissiva pode ser mais específica que a inicial como em "Existe mimetismo quando um
animal ou vegetal se parece com outro. É o caso de certas aranhas que se parecem com formigas; borboletas que se parecem com outras espécies de borboletas; vespas agressivas disfarçadas de moscas inofensivas." Poderá ocorrer o inverso, ou seja, a designação remissiva ser mais genérica do que a inicial como em "Quando chegava a safra dos pequis, eles se ausentavam até acabar a fruta." Esses processos de recategorização, respectivamente, nomeados hiperonímia e hiponímia ocorrem de maneira alternada no texto. Hiperônimos podem estar marcados positiva ou negativamente em termos de intensão (operação sobre a categorização inicial) como em "Por que matar Chistopher? Não bastaria cortar um dedo desse traidor?" A recategorização pode operar também o mecanismo de extensão por meio de ampliação, redução, fragmentação, condensação. Um caso clássico de ampliação é o uso de 3ª pessoa do plural com indeterminação como em "Saiu uma nota no jornal que é batata. Eles não dizem o nome, mas dão toda a ficha." Em relação ao processo de fragmentação podemos exemplificar com "O certo é que se deva continuar importando trigo considerado melhor que o nacional. Se formos transferir essa proposta, essa visão unilateral de qualidade para outros produtos, o Brasil teria de importar muitos outros itens." Percebe-se que, nesse caso, o objeto discursivo é "a importação de trigo". A expressão "proposta" indica o "modo de agir" e "visão unilateral de qualidade", o "modo de ver a situação". Apothéloz e Reichler-Béguelin(1995) denominam esse processo de "exploração da dimensão polimórfica do processo". A operação inversa, chamada fusão, reúne dois objetos discursivos como em "Força primordial, emanações benignas e malignas, faixas de radiação, magnetismo cósmico, esses troços. Em caso de anáfora, um episódio de pronominalização pode se referir à dimensão extratextual como em "É como se você tivesse um rádio e não soubesse que ele serve para sintonizar emissoras." Nesse caso, a designação "rádio" tem caráter específico, pertence ao interlocutor, mas a designação "ele" tem caráter generalizante, pertence a todos os rádios. Pronomes anafóricos representam recategorização implícita "em virtude se sua marca de gênero." (op cit) como em "A Catita fora posta pela mãe dormindo num trilho de Piau, mas o diabinho acordou e foi jogado pelo vento contra o barranco. Vieram entregá-la em nossa casa." A preferência pelo gênero feminino em "entregá-la" sugere uma categorização neutra, não avaliativa. Deve-se mencionar ainda a passagem a um nível metalinguístico, isto é, de sinonímia, em que "uma denominação em uso para a uma denominação em menção." (op cit) como em "Se surpreendeu ao ver onde era o Estádio da Portuguesa. Quando a gente ouve falar Canindé acha que é do outro lado do mundo." Além da metalinguagem, configura-se também o fenômeno da modalização pois "toda denominação indica um ponto de vista sobre o objeto designado." (Neves, 2007:117) Isso é percebido em "Ele disse que partirá amanhã pra São Paulo. Eu já previa essa chantagem.

(RE)CATEGORIZAÇÃO E MANIPULAÇÃO DO ENUNCIADO

(Re)categorização e avaliação

Tanto uma designação inicial como uma remissiva podem representar uma avaliação acerca do designado. Essa predicação avaliativa pode ser "disfórica" ou "eufórica", respectivamente, negativa ou positiva como se percebe nos exemplos a seguir: "É o doutor Bartolomeu quem quer fazer essa
barbaridade.", "Mande vir essa maravilha." Às vezes, os aspectos de disforia e euforia são marcados por adjetivos como em "É um belo acervo." Pode ocorrer também "denominação citada"(op cit) por meio da qual as denominações sugerem pontos de vista que não pertencem ao produtor dos enunciados como em "Ieltsin disse que Moscou havia sido durante bom tempo 'muito mole' em relação aos chechenos. Foi uma de suas poucas declarações conclusivas." A denominação citada em posição catafórica seria assim:"Leia essa miséria: 'Com a infeliz criancinha nos braços, Loredano estreitou a mão de Miguel num shake hands cúmplice, apontou para o crucifixo que empunhava na destra. E enquanto intimava 'jure por este!' com a mão esquerda acariciava o cabo do revólver." A recategorização porde representar um reforço de avaliação já ocorrida como em "Usava mascara de couro com furos para os olhos, boca e nariz. Mariana deu-lhe a bolsa que o bandido pegou rapidamente."

(Re)categorização e argumentação

O aspecto modal da linguagem está intimamente relacionado à eficiência argumentativa textual. A ocorrência de anáforas, por exemplo, com frequência apresentam direcionamento corroborativo acerca das denominações que o falante faz de um indivíduo ou de um estado de coisas. Nos exemplos a seguir percebem-se pontos de vista, respectivamente, favorável e contrário em relação ao objeto discursivo designado: "
Michael Jordan, entrou na quadra quase três horas antes do jogo. A Folha acompanhou durante uma semana o maior jogador de basquete da história.", "'Isso não é bom', disse o brigadeiro Sócrates Monteiro diante da mobilização nas ruas. O que não é bom é militares darem lições de civismo e política à sociedade." A categorização ou recategorização de objetos discursivos frequentemente coincidem com mudança paragrafal. É o caso de "sobremarcação da estrutura discursiva"(op cit) como no exemplo a seguir: "Fariam as pazes, mas as brigas recomeçariam adiante. Novas humilhações. Novos sofrimentos. A incompreensão de sempre. Essa era a situação: não podia mais permanecer ali. O que fizera de sua vida, era aquilo?"


Nenhum comentário:

Postar um comentário